EDUARDO RICCI JIU JITSU MARINGÁ

9 de out. de 2010

O NOVO JIU JITSU

Muitos praticantes, lutadores e até mesmo professores de Jiu-Jitsu, atualmente, embora devotando grande respeito e admiração, pensam que, nos últimos anos, a técnica do grande mestre Hélio Gracie já estava sendo ultrapassada.


Isso aconteceu porque com a adaptação do seu Jiu-Jitsu para a disputa de campeonatos com regras especificas que limitam o tempo de luta, proíbem a utilização de certos golpes arriscados, instituem categorias de peso e conferem pontos por domínio de posição, a arte da defesa, que é essencial em um confronto com um adversário mais pesado e mais forte, em uma situação real, perdeu em grande parte o propósito.

A luta de campeonato, através da contagem de pontos, valoriza prioritariamente o ataque e a agressividade, e como o professor Hélio sempre enfatizava a defesa acima de tudo, passaram a considerar o seu Jiu-Jitsu desatualizado.

Entretanto, Sun Tzu já ensinava há milênios no livro “A Arte da Guerra”, que quando existe insuficiência de força, a defesa deve ser priorizada e que a tática ofensiva só deve ser utilizada em situação de vantagem física. Hélio, sem nunca ter estudado filosofia chinesa, aplicou princípios do Taoísmo e de Sun Tzu com a maior sabedoria e precisão.

Depois de muita pesquisa em antigos livros de Jiu-Jitsu e Judô, chegamos à conclusão de que Hélio Gracie foi o primeiro mestre das artes marciais na história a materializar essas filosofias chinesas milenares e aplicá-las ao combate corpo a corpo, através de seu método genial de defesa pessoal.

Ele entendeu muito cedo, lutando contra adversários muito mais fortes e pesados, que partir para o ataque em uma situação de desvantagem física representa um esforço inútil e arriscado. O ataque só deve ser utilizado como elemento surpresa ou em uma situação de superioridade.

Como o Jiu-Jitsu de Hélio foi desenvolvido para ajudar ao mais fraco, ele priorizou a tática defensiva que depende da paciência (através do domínio da técnica) e da resistência (através da alimentação racional e vida saudável) esperando o adversário errar ou cansar, para só então buscar a vitória.

A regra da imobilização utilizada tanto no Judô quanto na luta livre, de origem greco-romana, se baseia na idéia de que quando um lutador é dominado por um adversário, com as espáduas encostadas no chão, ou ele escapa rapidamente ou está liquidado.

Hélio ousou em discordar desse tradicional conceito esportivo e criou um sistema defensivo invulnerável que permite ao lutador mais fraco manter-se em posição desfavorável sem ser finalizado, isto é, vencido ou nocauteado. Ele sempre afirmou que ao desenvolver os reflexos da sua técnica de defesa, um lutador só perde se errar, pois a técnica de defesa em si é invencível.

Com o avanço da idade, nos últimos quinze anos e a natural perda de boa parte da pouca força física que possuía, ele foi obrigado a aprimorar ainda mais o seu Jiu-Jitsu (com o qual poucos privilegiados tiveram contato) e torná-lo mais eficiente para poder dar continuidade ao seu costume de enfrentar desafios e colocar os seus ensinamentos a prova.

Até os seus 94 anos, Hélio Gracie se deitava no tatame e mandava qualquer lutador ou praticante do Jiu-Jitsu que o visitava, independentemente de tamanho ou peso, escolher a posição que quisesse, montado ou atravessado e tentar vencê-lo, sem que ele tentasse sair, apenas se defendendo.

Ninguém logrou êxito. Tudo isso para provar aos seus alunos e a quem quer que fosse procurá-lo, que com a sua técnica de defesa, qualquer pessoa, mesmo o mais fraco, pode se tornar imbatível.

Um trecho extraído do clássico “A Arte da Guerra” de Sun Tzu mostra bem a filosofia que explica o novo Jiu-Jitsu por ele criado. “Os bons guerreiros de antigamente primeiro se colocavam fora da possibilidade de derrota e depois esperavam a oportunidade de derrotar o inimigo.

A garantia de você não ser derrotado está em suas mãos, já a oportunidade de derrotar o inimigo é fornecida por ele mesmo. Vem daí o ditado: pode-se saber como vencer sem ter a oportunidade de fazê-lo.

A garantia contra a derrota implica táticas defensivas; a capacidade de derrotar o inimigo significa saber como e quando tomar a ofensiva. Devemos nos manter na defensiva quando a força for insuficiente e só atacar no erro ou no enfraquecimento do inimigo. O guerreiro vence os combates não cometendo erros. Não cometer erros é o que dá a certeza da vitória”.

Por Guilherme e Pedro Valente
http://colunas.sportv.globo.com/sensei/2010/10/01/relembrando-o-mestre-helio-gracie-faria-97-anos-hoje/

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