“Quem está desesperado?” gritava barulhento o apresentador de programa infantil toda manhã, em frente a três portas numeradas, para delírio da criançada. Muita gente não sabe, mas Sérgio Mallandro já deixava muita gente com a língua pra fora antes mesmo de inventar o “Glu-Glu”. Sob a supervisão de Carlson Gracie, o Mallandro treinou Jiu-Jítsu na década de 80 ao lado de expoentes do esporte, como Fernando Pinduka, Wallid Ismail, os atuais líderes da BrazilianTop Team Murilo Bustamante e Bebeo Duarte e aprontava das suas na praia.“O mestre pedia pra gente divulgar o Jiu-Jítsu entre os amigos e sempre aparecíamos com alguém novo na academia, disposto a aprender o Jiu-Jítsu”, conta o hilário faixa-marrom de Carlson Gracie.
Você foi graduado pelo Carlson faixa-marrom...
Fui o sexto aluno do Carlson, lá na Figueiredo (Rua Figueiredo Magalhães, em Copacabana RJ), local da antiga sede da Carlson). Na época, treinávamos eu, o Pinduka, o Fábio Macieira, o Maurício Bustamante, o Beto. Depois que chegaram os demais lá... e eu já sabia tudo! Ensinei o Wallid a amarrar a faixa, o Murilo a dar triângulo e o Bebeo a botar o joelho na barriga. Eu era bem mais antigo que esse pessoal que hoje a gente vê lutando pela TV.
Conte uma história engraçada do mestre.
Passei por diversas situações engraçadas ao lado dele. Uma vez, estávamos saindo da academia e o convidei para jantar na minha casa. Só que a cozinheira tinha feito um Bobó de Camarão e “pipipi-papapá”, o Carlson deixou a dieta Gracie de lado e comeu todo o camarão, deixando o bobó gelado pra gente. Como era tarde, na volta não tinha mais ônibus e o Carlson acabou voltando da Lagoa até Ipanema de carona num camburão. E eu fui junto... não iria perder a cena por nada. (risos)
Houve uma época em que você o ajudou a manter a academia aberta. é verdade?
Pois é. Quando virei artista, a academia estava prestes a fechar porque o Carlson não tinha dinheiro para pagar o aluguel. Pra piorar, ninguém pagava academia... nem eu. Então, num belo dia, o Carlson chegou pra mim e disse: “Mallandro, agora que você virou artista e é famoso, arranja uma grana!”. Acabou que cedi o dinheiro do aluguel em agradecimento a tudo o que ele me ensinou. Sou muito grato ao Carlson e ele vai fazer muita falta.
E os campeonatos? você Chegou a enfrentar algum Gracie nos tatames?
Nunca enfrentei um Gracie e sou amigo de muitos deles. A turma do Jiu-Jitsu no Rio era a dos Gracies... Cresci e aprendi muito com o Royler, o Renzo e o Rickson, por quem tenho muito carinho. Me lembro de uma vez que fomos a São Paulo representando o Pedro Hemetério, já que o torneio era apenas para equipes paulistas. Os locais acharam aquilo muito estranho. Estávamos todos bronzeados e cercados dos branquelas de São Paulo. Mesmo com a faixa azul, passamos o rodo nos paulistas, que na época não sabiam muito. Estavam lá o Maninho, o Felipão, Cacá, Pinduka, o Maurição e eu... éramos a linha de frente do Carlson.
O que o Jiu-Jitsu te ensinou que você usa até hoje?
O Jiu-Jitsu me deu muita segurança, tanto que eu nunca queria brigar na rua. Na minha época, ninguém conhecia a prática de Jiu-Jitsu e certa vez, em Petrópolis (RJ), um cara cismou que queria brigar comigo na rua. Tentei dissuadi-lo, mas o cara queria me enfiar a porrada.Então me defendi, levei o cara pro chão e apliquei um mata-leão. Falei pra ele que ele iria dormir, mas acabei soltando-o. O danado veio de novo pra cima de mim e não teve jeito.Encaixei a posição novamente e o cara dormiu. O Jiu-Jitsu tem esse lado bom, pois você imobiliza o oponente sem precisar dar um soco.
Mas você brigava muito na rua?
Não, sempre fui na minha. A única coisa que fazíamos era que quando estávamos na praia, a gente divulgava o Jiu-Jitu entre os amigos. Falava: “Vou te ensinar uma malandragem". E pegava o cara num estrangulamento. O pessoal ficava curioso e parava tudo lá na academia... o Carlson falava pra gente trazer mais alunos pra academia. O mestre também gostava de colocar a gente pra fazer uma luva e a gente saía na porrada (risos). Me recordo que certa vez, eu tava treinando com o Manimal e fiz um “Glu-Glu” pra cá e um “Glu-Glu” pra lá e o derrubei com uma baianada. Na seqüência, eu disse que tava cansado, precisava beber água e saí de fininho... (risos). Até hoje ele fica bolado quando eu lembro desta história com ele... ele diz que eu dei sorte.
Fonte: http://www.tatame.com.br/dasantigas/upload/64/arquivo.pdf
Um comentário:
Show de bola!
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