EDUARDO RICCI JIU JITSU MARINGÁ

30 de out. de 2010

Entrevista: Kyra Gracie

Dificilmente alguém pensa em jiu-jitsu brasileiro sem se lembrar de um Gracie. A arte marcial criada e desenvolvida pelos patriarcas Carlos e Hélio segue como grande legado da família e com Kyra não é diferente. Aos 25 anos, ela é a mais famosa lutadora dentre as mulheres do clã e já está ciente da responsabilidade que tem.


“Sempre querem que um Gracie seja o melhor. Já estou acostumada com isso, pois desde pequena é assim”, explicou Kyra Gracie ao UOL Esporte. Mais que isso, ela assumiu o papel de embaixadora do jiu-jitsu entre as mulheres. O plano é muito simples: quer usar toda sua visibilidade para ajudar no crescimento do esporte. “Quero mostrar que as mulheres podem lutar sem deixar de serem femininas.”

Para isso, ela tem um trunfo na manga, além de sua qualidade técnica – ela já é bicampeã mundial, penta pan-americana e penta brasileira, além de bi mundial sem quimono. Kyra até tenta fugir do estigma, mas reconhece: é uma das musas do esporte brasileiro. “Toda mulher gosta de elogios. Lógico que tem esse lado, mas meu primeiro plano é ser lutadora e estou me esforçando para isso”, explicou.
Bisneta de Carlos Gracie, sobrinha-neta de Carlson Gracie e sobrinha de Renzo Gracie, Kyra ainda fala na entrevista exclusiva abaixo sobre os planos de sua carreira, uma possível mudança para o MMA, da relação com sua família e ainda conta como usa o jiu-jitsu para se livrar de engraçadinhos nas baladas.
 Como você está agora?
Kyra Gracie - Meu último campeonato foi o Mundial, em junho, mas machuquei o joelho. Estou com um estiramento no ligamento não posso competi. Volto em janeiro, que já tem o Europeu, depois vem Pan-Americano, Brasileiro e o Mundial em seguida.
Você está lutando sem quimono também?
Luto submission apenas no ADCC (Abu Dhabi Combat Club, maior evento do mundo na modalidade), que é de dois em dois anos. Ganhei duas edições, mas fiquei de fora da última por causa de uma lesão. Ano que vem tem e novo e pretendo competir.
Como estão seus planos de lutar MMA?
Na verdade, o MMA feminino está crescendo muito. Venho treinando boxe há algum tempo e tive algumas propostas de eventos nos Estados Unidos, que estou estudando. Não tem nada certo, mas esse crescimento mexe comigo. Quem sabe uma boa oportunidade pode fazer eu me decidir de vez.
Como é o peso de carregar o sobrenome Gracie?
Na verdade, quando eu vou lutar, tento não aumentar a pressão sobre mim, mas é claro que a expectativa é maior. Sempre querem que um Gracie seja o melhor. Já estou acostumada com isso, pois desde pequena é assim. Por isso penso que tenho de dar o exemplo, mostrar que somos donos do esporte. Tenho essa responsabilidade. Ali não sou só a Kyra, sou toda uma família que já passou pelo tatame.
Isso é só com você, ou toda sua família sente o mesmo?
Todo mundo da família sente isso, mas nos acostumamos. Tentamos não por tanta pressão. Mas essa adrenalina é algo que aprendemos a conviver desde pequenos e tentamos melhorar nosso rendimento com isso.
Você está em alta na mídia e é praticamente a única lutadora que aparece. Como você vê essa posição de embaixadora das lutas entre as mulheres?
Esse é um ponto muito importante para mim. Na verdade, o jiu-jitsu feminino não tinha espaço nem na mídia especializada, não tinha crédito nenhum. Quando comecei a lutar profissionalmente, até por ser uma Gracie, meu objetivo foi aproveitar essa mídia, passar uma crítica sobre tudo isso, mostrar que as mulheres podem lutar sem deixar de serem femininas.
Como é para você ser apontada como musa do esporte?
(Muitos risos) Acho que toda mulher gosta de elogios, faz bem para o ego. Mas não quero que isso seja prioridade na minha vida, não quero ser lembrada primeiramente por isso. Lógico que tem esse lado, mas meu primeiro plano é ser lutadora e estou me esforçando para isso.
E já recebeu alguma proposta para posar nua?
Meus tios me matariam! (Gargalhadas)
Falando em tios, os Gracie continuam muito unidos?
Com certeza e nem teria como ser diferente. Todo mundo trabalha com a mesma coisa, meus tios e primos mais velhos são meus treinadores, sempre estamos juntos, assistimos competições, no córner um do outro. Por sermos do mesmo meio, aproveitamos toda a experiência que podemos transmitir uns para os outros.
Mas entre as mulheres da família, você segue sendo a única lutando profissionalmente, não?
Todo Gracie sabe alguma coisa de jiu-jitsu ou já treinou em algum momento na vida. Eu comecei aos poucos também, mas no início, os meninos não me incentivam. Comecei vendo minha mãe treinando, mas depois ela parou e eu continuei. Escutava eles falando para eu largar, deixar isso com eles, mas agora são meus maiores incentivadores!
Então você é um exemplo na família?
Hoje em dia, já tem outras mulheres da família treinando. Espero realmente ter conseguido mostrar que uma mulher da família também pode carregar esse sobrenome. Vejo primas minhas mais novas treinando, umas tias... Espero que daqui algum tempo possam surgir novas Kyrazinhas (risos).
Uma curiosidade: Você já precisou usar algum golpe de jiu-jitsu contra algum rapaz mais abusado?
(Risos) Aqui no Rio de Janeiro, quando você vai em alguma festa ou balada, o pessoal tem mania de te segurar pelo braço, para conversar à força, te agarrar, te beijar... Eu tenho um movimento de defesa pessoal, que é uma defesa de pegada, que sempre uso quando preciso sair desse tipo de situação. Já até ensinei para as minhas amigas. Pessoal está esperto, mas sempre aparece um desavisado... (mais risos)

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