EDUARDO RICCI JIU JITSU MARINGÁ

22 de mar. de 2010

Jiu Jitsu: A válvula de escape.


O ser humano é uma panela de pressão, exatamente. Ainda que haja pessoas extremamente calmas, é certo afirmar que todo ser humano é uma panela de pressão. Acontece que alguns funcionam a fogo baixo enquanto outros vivem sob labaredas gigantes.
Cabe a nós encontrarmos as válvulas de escape, o maior número possível. O choro, por exemplo, é uma importante válvula de escape do nosso corpo. Assim como o choro, outras coisas não devem ser contidas, algumas formas de expressas o que sentimos são fundamentais para que não haja um verdadeiro colapso em nosso interior.
Mas, o que o Jiu Jitsu tem a ver com tudo isso? O Jiu Jitsu é uma arte de origem questionada. Uns dizem ser da índia enquanto outros afirmam ser originária do Japão, mas, uma coisa é certa, foi no Brasil que ela foi desenvolvida, pela família Gracie. E essa arte, conhecida em todo o mundo, é a minha válvula de escape, minha e de milhares de praticantes da arte.
Eu jamais negarei que uma boa porcentagem dos praticantes do Jiu Jitsu são pessoas violentas, que usam a arte para agredir outras pessoas de forma covarde e estúpida. Mas eu preciso dizer que presenciei pessoas que melhoraram absurdamente o emocional e psicológico através do Jiu Jitsu. Hoje, grande parte dos praticantes utilizam o Jiu Jitsu para fins de melhoria de vida.
Existe ainda uma visão distorcida por meio de algumas revistas, programas de televisão (que prefiro nem citar aqui o nome) que julgam o Jiu Jitsu como responsável pelos atos violentos de seus praticantes, além disso, julgam de forma muito generalizada. Quero dizer a você caro leitor, que, o Jiu Jitsu não gera violência na pessoa. Uma pessoa, que já tem a natureza violenta, apenas usará a arte como forma de agredir, porém, por ela já ser violenta, ela poderia e pode usar muitas outras formas de exteriorizar essa violência. Se não for com o Jiu Jitsu, será com uma arma na mão, ou na direção de um veiculo e etc. O problema está na mente doentia do praticante da arte e não na arte. Se o Brasil proibisse hoje a pratica do Jiu Jitsu, ou qualquer arte marcial, em todo o território nacional, nós iríamos, enfim comprovar, que os números da violência continuariam os mesmos, pois, como já disse, outras formas de usar essa violência surgiriam.
Os benefícios do Jiu Jitsu são indiscutíveis. Esse esporte além de proporcionar uma ótima condição física, melhora a auto-estima, gera segurança, controle emocional e arrisco a dizer até mesmo amor próprio. Lembro-me que quando comecei a praticar esta arte, estava com sérios problemas emocionais e não houve um dia, um só dia, que entrei no tatame e meus problemas entraram junto comigo. Ao pisar no tatame é simplesmente impossível se lembrar das mágoas, passado, problemas, frustrações e mais uma série de coisas que fazem a pressão dessa panela, que é o homem, subir.
Muitos dizem que é loucura, gostar de tomar porrada, ficar se arrastando e coisas assim. Eu digo que os golpes mais fortes que podemos tomar não são aqueles que atingem nosso físico, são os que atingem o emocional e geralmente é a vida que se encarrega de nos dar esses golpes, que nos balançam, podendo nos deixar no chão por muito tempo, ou quem sabe, para sempre. Quem já experimentou a dura série de golpes das palavras e atitudes alheias, sabe que socos e chutes são cicatrizáveis, enquanto as palavras geram feridas que podem machucar por uma vida inteira. Conheci pessoas que só conseguiram escapar de um nocaute emocional depois de levaram literalmente um nocaute por causa de um soco ou uma finalização.
Quando os monges criaram o Jiu Jitsu, criaram para que homens fracos e pequenos pudessem derrubar e vencer verdadeiros brutamontes. Quem viu Royce Gracie com 80 kg vencendo homens de mais de 100 kg no jaula do UFC sabe do que estou falando.
Os monges faziam extensas viagens entre a Índia e a China, e nesses caminhos, o número de assaltantes era assustador, porém, os monges não podiam revidar contra os criminosos por dois motivos: não podiam usar a violência e não tinham condições físicas para vencer os assaltantes. Então criaram a arte suave (que é o Jiu Jitsu ao pé da letra) para imobilizar os adversários.
Às vezes somos tão pequenos diante dos problemas desta vida, nos sentimos tão frágeis que pensamos que não há mais solução, não há saída. O verdadeiro lutador, não o brigador, se torna uma mente mais forte para os desafios, sabe que lutar é melhor que desistir e que quanto maior o adversário, maior a glória da vitória.
Sim, o homem precisa de uma válvula de escape, o Jiu Jitsu é uma delas, e importante, não é por acaso que o MMA (estilo de luta originário do Jiu Jitsu Brasileiro) é hoje o esporte que mais cresce no mundo.

“Verás que um filho teu não foge à luta...” Hino nacional brasileiro

Publicado no Recanto das Letras em 24/04/2009
Código do texto: T1556945


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